domingo, 1 de novembro de 2009

A FRASE E SUA ORGANIZAÇÃO

“Pontuar é sinalizar gramatical e expressivamente um texto”
[Celso Cunha. Gramática do Português Contemporâneo, p. 618.]


Segundo a teoria do signo linguístico, ninguém poderá proferir algo [numa situação sociocomunicativa] com uma estrutura menor que a de um período. Portanto, o período é um universal da linguagem e, por isso, deve existir em todas as línguas.

- Fogo!! – frase nominal

- À direita, menino!! – frase nominal

“Os cavalinhos andando e nós, cavalões, comendo” [Manuel Bandeira] – frase nominal



A frase é constituída de períodos e estes, de orações ou de frases nominais [TP2].



Quando proferimos uma cadeia sonora, empregamos a altura, a intensidade e a quantidade – características físicas de um som.



ALTURA

na língua, esta característica determina tons [ de O a 5]


INTENSIDADE

representa a força empregada para a produção de um som; na língua, classifica as sílabas em fortes e fracas [e não em tônicas e átonas].

QUANTIDADE

é a demora na produção de um som [número de vibrações por segundo], determinando se esse som é mais ou menos longo. Esta característica é irrelevante em língua portuguesa no Brasil. Já em Portugal, o “a” craseado é longo, enquanto que o “a” que não leva este sinal é sempre breve.

TIMBRE

Característica que permite distinguir quando um mesmo som é produzido por fontes diferentes. Determina se o som é grave ou agudo. Em língua portuguesa, é também irrelevante.



SINAIS DE PONTUAÇÃO

Na escrita, necessitamos marcar algumas dessas características para facilitar a leitura aos nossos interlocutores.


PONTO-FINAL

Indica o final de períodos assertivos com tonalidade [3-1]:

Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil.

A empregada saiu cedo.


PONTO-DE-INTERROGAÇÃO [1]

Empregado para marcar o final de períodos interrogativos [com tonalidade 4-3]


Quem foi ?

Onde você mora ?

Como se chama ?

Por que não veio ?

Sinhá Comadre, o cachorro ?


PONTO-DE-INTERROGAÇÃO [2]

Marcam o final de períodos optativos [períodos cuja alternativa é fechada: SIM ou NÃO] e têm o contorno melódico estabelecido em 3-4:

A empregada saiu ??

Você foi lá ontem ??

O cachorro ??

Pensam que estou brincando ??

É melro mesmo ?? Ou é vira ??

É melro mesmo ?? ou é vira ??


PONTO-DE-EXCLAMAÇÃO [1]

Empregado para variantes exclamativas.

Que noite !

Nossa !

Não vou lá !

Puxa !



PONTO-DE-EXCLAMAÇÃO [2]

Empregados para marcar o final de períodos imperativos [função injuntiva]: ordens, pedidos, convites, desejos, etc.

A toda velocidade, motorista !!

Que a terra lhe seja leve !!

Não faça isso, criatura !!

Venha jantar conosco amanhã !!

Silêncio !!



VÍRGULA

Serve para separar: é como uma “cunha” colocada na madeira para que se abra. São marcados por vírgula:



TERMOS DA ORAÇÃO DESLOCADOS

À noite, todos os gatos são pardos.

Sinceramente, não gosto disso !

Se não chover, irei.



ELEMENTOS DESTACADOS DE UM CONJUNTO

Comprei lápis, papel, régua e cadernos.

Estavam desertas as ruas, as casas e a vila.

Era jovem, linda, inteligente e pensativa.



EXPRESSÕES EXPLICATIVAS

Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil, chegou aqui em 1500.

A mulher de preto, que estava sentada perto da cômoda, é a maior suspeita.

A questão, como já foi dito, é assunto muito melindroso.

A chuva não cai do céu, isto é, cai das nuvens.



ORAÇÕES

Vim, vi, venci.

Os cavalinhos correndo, os cavalões comendo.

A chuva caindo, as pessoas correndo.

Correndo tanto assim, o menino vai cansar.


TERMOS ENFÁTICOS

O Governador, não esteve presente.

Você, dê o fora daqui !!

O de que mais gosto nela, são os ombros!


O VOCATIVO OU O SUPLEMENTO DE APELO

A toda velocidade, motorista !!

Mulher, não confies naquele homem !!

Menino, pare de chorar !!

Mãe, me dá isto ??

Deus, irmãos, não distingue ninguém.


PONTO-E-VÍRGULA

Para separar, em frases mais extensas, períodos ou orações já separadas por vírgulas:

“Já tive muitas capas e infinitos guarda-chuvas, mas acabei me can- sando de tê-los e perdê-los; há anos vivo sem nenhum desses abrigos, e também, como toda gente, sem chapéu.”
[Rubem Braga]



PARA SEPARAR TENS DE UMA ENUMERAÇÃO

A prova constará de: a) um estudo de texto; b) cinco questões gramaticais; c) uma redação sobre o tema abordado no texto.



TRAVESSÃO

Serve para:

introduzir a fala das personagens no discurso direto:

- Mãe, posso ir agora ??

- Abaixo ?? Ou acima ?? – disse Tio Cosme um dia.


Separar termos ou expressões explicativas, como no caso da vírgula:

Todos os casos – ressalvados os contemplados no “caput” do artigo – ficam revogados.


DOIS-PONTOS

Servem para marcar citações ou enumerações:

Depois de um longo silêncio, ele disse:

- É melhor esquecer tudo.



Equivalências em formas compostas por aposição:

“Não tive filhos: não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”
[Machado de Assis]




RETICÊNCIAS

Servem para indicar que a frase foi interrompida, por algum motivo [hesitação, ironia, deixar que o leitor a complete]:

“Se eles pegam de namoro...”
[Machado de Assis]

O árbitro é muito eficiente, mas os auxiliares...




PRÁTICA

TEXTO 1- Coloque os sinais de pontuação adequados no lugar do asterisco:

- Que bom vento o trouxe a Catumbi a semelhante hora* – perguntou Duarte, dando à voz uma expressão de prazer, aconselhada não menos pelo interesse que pelo bom-tom.

- Não sei se o vento que me trouxe é bom ou mau* respondeu o major* sorrindo por baixo do espesso bigode grisalho* sei que foi um vento rijo. Vai sair*

- Vou ao rio Comprido.

- Já sei* vai à casa da viúva Meneses. Minha mulher e as pequenas já devem estar* eu irei mais tarde* se puder* Creio que é cedo* não*

As GRAMÁTICAS EM FOCO

 

“Gramática é como mulher de malandro: deve apanhar todos os dias para saber quem manda”.
[Luís Fernando Veríssimo ,GIGOLÔ DAS PALAVRAS in Língua & Liberdade, CELSO PEDRO LUFT.]

“Devemos saber gramática o suficiente para não necessitarmos prender-nos a ela.” [GERALDO MATTOS, Doutor e livre-docente em Língua Portuguesa.]

Segundo os linguistas, existem, pelo menos, três espécies de gramáticas:


GRAMÁTICA INTERNALIZADA [INTERNA OU IMPLÍCITA]

Conjunto de regras que todos os falantes nativos de uma língua dominam, após terem aprendido a falar. São regras NATURAIS e representam o REAL.


GRAMÁTICA DESCRITIVA

Conjunto de normas que são seguidas. Nesse tipo de gramática, as regras são OPERACIONAIS [exigem do usuário o raciocínio, mas não necessitam ser decoradas]. Representam o POSSÍVEL.


GRAMÁTICA NORMATIVA [ou prescritiva]

Conjunto de normas que devem ser seguidas. Há o “certo” e o “errado”. Representa o IDEAL [de acordo com determinado dialeto].

Aspectos das gramáticas normativas


  • As divisões em FONÉTICA [sic!], MORFOLOGIA e SINTAXE, com fragmentos sobre metrificação e um anexo sobre “figuras”, deixam muito a desejar - já que não aparecem a SEMÂNTICA e a ESTILÍSTICA – além de outras partes.


  • São sintéticas [partem de elementos para chegar ao todo, quando sabemos que não pode haver síntese sem uma análise que a preceda. Ninguém pode pretender montar o que quer que seja se não houver aprendido como desmontá-lo].


  • Baseiam-se num gênero apenas: no literário de épocas antigas. [O difícil é determinar a época em que nos devamos basear.] “Por isso mesmo acabam desconsiderando todo o instrumental que a Sociolinguística oferece para a análise criteriosa dos fenômenos de variação e mudança linguística, permitindo assim a construção de relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democráticas e não-discriminatórias.” [BAGNO, 2006. Nada na língua é por acaso: ciência e senso comum na educação em língua materna.]


  • Os conceitos constantes nessas gramáticas são fragmentários, contraditórios e mal formulados.


  • Não são científicas: ignoram os avanços linguísticos dos últimos cem anos.


Somente pelos itens anteriores é que podem justificar-se:

a mesóclise [dar-te-ei; far-te-ia; paralelepipedar-vo-las-emos; se etc.];

a rigidez na colocação dos pronomes átonos [Se me não falha a memória; Perguntaram-me algo];

concordâncias esdrúxulas;

regências, como: pisar A grama; assistir A um programa, perdoar ao namorado;

a “voz” passiva [com particípios funcionando como predicativos];

o uso de VÓS [2ª pessoa do plural];

nomenclaturas arcaicas e obsoletas [artigo, sujeito oculto, sujeito composto, língua culta, língua popular, etc.].

PERFIL DOS CURSISTAS

PERFIL DOS CURSISTAS DO PROJETO GESTAR II
Região Sul – Santa Catarina – Lages
Professor-Formador: José Cé



NOME : Maria Aparecida Nunes de Liz

DATA DE NASCIMENTO: 23/04/1964

LOCAL DE NASCIMENTO:Campos Novos – Santa Catarina


Conclusão do Ensino Fundamental: E.E.B. Belizário Ramos – Lages

Conclusão de Ensino Médio: E.E.B. de Lages

Curso Superior: Letras Português e Inglês/Espanhol – Uniplac – La-ges

Pós-Graduação: Atualização Pedagógica e Gestão Escolar

Profissão: Analista técnica em gestão de desenvolvimento regional – Professora da Rede Pública Estadual

Local de trabalho: Gered/Lages/SC e E.E.B. Godolfim Nunes de Sousa

Tempo de Serviço: 23 anos

E-mail: cidadeliz@hotmail.com



NOME: Silvana Romagna Ferreira dos Santos

NACIONALIDADE: brasileira

NATURALIDADE: Lages – Santa Catarina

NASCIMENTO: 27/11/1967

FORMAÇÃO: Letras/ Uniplac/ Lages [1992-1995]

PÓS-GRADUAÇÃO: Letras – Português e Literatura – FIJ – Faculda-des Integradas de Jacarepaguá

ATUAÇÃO: E.E.B. Isidoro Silva – Anita Garibaldi - SC


CARACTERÍSTCAS: calma, responsável, comprometida com o meu trabalho. Amo minha família, e me dedico muito a ela e a casa. Procuro no trabalho manter uma relação de amizade com meus alunos, conscientizando-os para que compreendam que a educa-ção é o melhor caminho.




NOME: Luzia Lili da Costa Picinini


FORMAÇÃO: Magistério [1966] – Lages – SC

Letras [2001] – Uniplac – Lages – SC

PÓS-GRADUAÇÃO: Pró-gestão

ATUAÇÃO: E.E.B. Antonieta Silveira – Palmeira - SC

LAZER: Leitura




NOME: Nara Aparecida de Oliveira Alves

FORMAÇÃO: Letras/ Pós em Gestão de Qualidade

ATUAÇÃO: Professora Tempo: 25 anos

CARACTERÍSTICA: responsabilidade

ESPERANÇA: um mundo melhor

PAIXÃO: Cinthia - filha





NOME: Adriana Maria Zamin Sousa

NATURALIDADE: Lages – SC

DATA DE NASCIMENTO: 16/11

FORMAÇÃO: Letras/Uniplac-Lages-SC

Artes-Educação/Música

ESPECIALIZAÇÃO: Metodologia em Língua Portuguesa

IBPEX/ Ensino da Arte: Fundamentos Estéticos e Metodológicos [Monografia em EDUCAÇÃO MUSICAL]

E-mail: drizamin@bol.com.br




NOME: Vera Tomoe Katsurayama Wiggers

NATURALIDADE: Santa Vitória do Palmar – RS

NACIONALIDADE: Brasileira

SIGNO: Sagitário

FORMAÇÃO: Letras/Uniplac – Lages – SC

ATUAÇÃO: E.E.B. Ilza Amaral de Oliveira

ÁREA: Português/Inglês – Ensino Fundamental




NOME: Patrícia Silveira de Sousa

DATA DE NASCIMENTO: 25/09/1979

FORMAÇÃO: Superior incompleto/Letras-Uniplac

ATUAÇÃO: E.E.B. Nossa Senhora dos Prazeres – Correia Pinto - SC

E-mail: silveirapatricia53@yahoo.com.br



NOME: Iris Schreiber

FORMAÇÃO: Curso de Letras pela Universidade de Passo Fundo – UPF – RS.

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL: 46 anos de atuação em sala de aula: 13 anos de serviços dedicados ao magistério no município de Cara-zinho – RS. Em 1978, ingressou no Magistério Público Estadual de Santa Catarina, na Escola de Educação Básica Belizário Ramos – onde se aposentou em 1989. Retornou à sala de aula, em caráter temporário, no Colégio Industrial de Lages [atual E.E.B. de Lages]. Reingressou no Magistério Público Estadual em 1994, na E.E.B. Melvin Jones, em Lages.

CARACTERÍSTICAS: autoridade e sede de saber: o mundo evolui, precisamos acompanhar as mudanças.

ESPERANÇA: Ver a educação e educadores valorizados em nosso País.

PAIXÃO: a minha profissão. Amo o que faço, amo ser professora.



[*] Os demais cursistas, de um total de doze, desistiram ou não elaboraram seu perfil.

PROJETO DE PESQUISA

Qualquer atividade exige planejamento antes de ser executada. Isto quer dizer que, para se chegar a um projeto, deve-se percorrer as seguintes fases:
1. estudos preliminares
2. anteprojeto
3. projeto final

Como elaborar um projeto
Fazer um projeto é traçar um caminho eficaz que conduza ao fim que se pretenda atingir – não significando perda de tempo, como poderiam supor alguns.
Um projeto serve essencialmente para responder às seguintes perguntas:

a) O que fazer?
b) Por quê, para quê e para quem fazer?
c) Onde fazer?
d) Como, com quê, quanto e quando fazer?
e) Com que recursos?
f) Quem vai fazer?

Pontos fundamentais de um projeto

1. O QUE FAZER
. Formular o problema
. Enunciar as hipóteses
. Estabelecer as bases teóricas (relação existente entre a teoria, a formulação do problema e o enunciado das hipóteses).
. Consequência para a escola se as hipóteses forem aceitas , ou se forem rejeitadas

2. POR QUÊ? PARA QUÊ? PARA QUEM FAZER?
. Justificativa (motivos de ordem teórica e de ordem prática)
. Objetivos da pesquisa
. Universo atingido

HIPÓTESES

Suposições que se fazem na tentativa de explicar o que se desconhece. Servem para preencher lacunas do conhecimento.

TEMA DO PROJETO

Assunto que se deseja provar ou desenvolver. Deve ser enunciado de forma concreta, determinada, precisa – com limites bem definidos. É o ponto de partida para o projeto e ponto de chegada (da elaboração que se fez). É uma proposição mais abrangente que a formulação do problema. Não indica exatamente qual a dificuldade que se pretende resolver: esta se encontra definida na indagação do problema.

FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Formular o problema consiste em dizer, de maneira explícita, clara , compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver, limitando o seu campo e apresentando suas características. Proposição mais específica que o tema.

3. ONDE FAZER? COMO?
. Descrição do campo (local)
. A população com suas características
. O plano utilizado
. Variáveis

4. COM QUÊ? (Instrumento)
. Descrição do instrumento da pesquisa que vai ser usado.
. Que informações se pretende obter
. Como o instrumento será aplicado para se obter estas informações.

5. QUANTO? (Utilização de provas estatísticas)
. Como os dados obtidos serão codificados.
. Que tabelas serão feitas e como serão.
. Que provas estatísticas serão utilizadas para verificar as hipóteses.
. Previsão sobre a interpretação de dados.

6. QUANDO (Cronograma)
. O tempo necessário para executar o projeto, dividindo o processo em etapas e indicando que tempo é necessário para a realização de cada etapa.

7. CONCLUSÃO E OBSERVAÇÕES

8. REFERÊNCIAS

9. ANEXOS

terça-feira, 1 de setembro de 2009

ESCRAVO
[Poema à maneira clássica]

Escravo! Cadáver anônimo e universal!
Escravo! Morto-vivo que dorme, sonhando com homens bons!
Objeto negro que vive a flutuar pelas ondas do impiedoso.
Sombra vagueante pelo destino incerto e temeroso.

Escravo! Há dois mil anos tu és livre,
Mas ainda não provaste o sabor desta palavra.
Hoje, após tatos sacrifícios e vidas desgastadas,
Ainda se não vazou de teu peito, essa esperança coagulada.

Homem mau, homem bom – sozinho ou das multidões
O escravo é uma sombra vergastada das gerações.
Ó escravo, és um homem errante pelos caminhos da incerteza.
Ó escravo, és uma sombra que foge de ti. [Mas tu que já nos mostraste tantas proezas!]

Tu sofres na linguagem universal da resignação.
Tu lutas com forças que a esperança mistifica.
Tu pedes calado com uma persistência que dignifica.
E se os cadáveres falassem, tu falarias assim!

José Cé
Professor-Formador do Projeto GESTAR II
Região Sul – Santa Catarina - Lages

terça-feira, 21 de julho de 2009

A GRAMÁTICA EM FOCO


"A gramática é como mulher de malandro: deve apanhar todos os dias para saber quem manda" [LUÍS FERNANADO VERÍSSIMO - Gigolô das palavras in Língua &Liberdade, CELSO PEDRO LUFT.]

"Devemos saber gramática o suficiente para não necessitarmos prender-nos a ela." [GERALDO MATTOS - Doutor e Livre Docente em Língua Portuguesa.]

Segundo os linguistas, existem, pelo menos, três espécies de gramáticas:

1. GRAMÁTICA NORMATIVA [OU PRESCRITIVA]
Conjunto de normas que devem ser seguidas. Há o CERTO e o ERRADO. Representa o IDEAL [de acordo com determinado dialeto].

2. GRAMÁTICA DESCRITIVA
Conjunto de normas que são seguidas. Nesse tipo de gramática, as regras são OPERACIONAIS [exigem do usuário o raciocínio, mas não necessitam ser decoradas]. Representam o POSSÍVEL.

3. GRAMÁTICA INTERNALIZADA
Conjunto de regras que todos os falantes nativos de uma língua dominam, após terem aprendido a falar. São regras NATURAIS e representam o REAL.


Aspectos das gramáticas normativas:

  • Baseiam-se num gênero apenas: no literário de épocas antigas. [O difícil é determinar a época em que nos devamos basear.] "Por isso mesmo, acabam desconsiderando todo o instrumental que a Sociolinguística oferece para a análise criteriosa dos fenômenos de variação e mudança linguística, pemitindo assim a construção de relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democráticas e não-discriminatórias." [BAGNO, Nada na língua é por acaso: ciência e senso comum na educação em língua materna, 2006]
  • As divisões em FONÉTICA [sic!], MORFOLOGIA e SINTAXE, com fragmentos sobre metrificação deixam muito a desejar - já que não aparecem a SEMÂNTICA e a ESTILÍSTICA -além de outros aspectos a ser considerados.
  • São SINTÉTICAS [partem de elementos para chegar ao todo, quando sabemos que não pode haver síntese sem uma análise que a preceda. Ninguém pode pretender montar o que quer que seja se não houver aprendido como desmontá-lo].
  • Os conceitos constantes nessas gramáticas são avulsos, contraditórios e mal formulados.
    Não são científicas [i.é, ignoram os avanços linguísticos dos últimos cem anos].
  • Somente pelos itens anteriores é que podem justificar-se:
  • a mesóclise [dar-te-ei; far-te-ia; paralelepipedar-vo-las-emos, etc.]
  • a rigidez na colocação dos pronomes átonos
  • a crase
  • concordâncias esdrúxulas
  • regências, como: pisar NA grama, assistir A um programa, etc.
  • a "voz" passiva [com particípios funcionando como predicativos
  • uso de vós [2ª pessoa do plural]
  • nomenclaturas arcaicas e obsoletas [artigo, sujeito oculto, sujeito composto, etc.]

terça-feira, 30 de junho de 2009

SUBSÍDIOS ESTILÍSTICOS

Os elementos ímpares [os que aparecem apenas num dos elementos do significado – ou só no significante, ou só na situação] representam um peso morto imposto ao falante, porque, não encontrando correspondente no significante ou na situação, constituem sinais [signos lingüísticos]: representam elementos mediatos [que só têm significação no conjunto] do significante ou detalhes da situação, ignorados pelo falante. Cabe ao falante [ou usuário da língua] transformar o elemento ímpar em elemento par, evitando, assim, a inútil sobrecarga presente em cada ato comunicativo: neste caso, o processo é criativo.

Portanto, a Estilística Criativa trabalha com os elementos ímpares, transformando-os em pares.

Já a Estilística Seletiva opera com os elementos pares, justifica os motivos da escolha de uns em detrimento de outros; a maior parte da antiga Retórica [senão toda] era pura Estilística Seletiva.

Quando tomamos um elemento lexical e fornecemos-lhe um significado, estamos no campo da Estilística [Criativa] Lexical. Ao tomarmos um elemento semântico [da situação] e alterar-lhe o significado, estaremos operando com a Estilística [Criativa] Semântica.

Além disso, existem recursos estilísticos funcionais e recursos estilísticos regulares. Um recurso estilístico é funcional, quando aparece motivado pelo assunto da mensagem, como neste verso:

“Ao breve bem, comprido sofrimento”. [Na primeira parte do verso, as palavras diminuem de tamanho (breve e bem), indicando a compressão e a fragilidade; na segunda, as palavras aumentam (comprido e sofrimento), sugerindo a enormidade da dor perante o curto bem.]

A funcionalidade dos recursos estilísticos caracteriza o verso moderno. O poeta clássico conhecia o recurso funcional, mas empregava-o menos, por estava cercado por diversas imposições de ordem estética. O poeta moderno é livre, ainda que para prender-se aos recursos regulares e clássicos!



Análise dos recursos estilísticos
do poema


TREM DE FERRO
Manuel Bandeira

Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...

Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Oô...

Menina bonita
De vestido verde
Me dá tua boca
Pra mata a minha sede
Oô...

Vou mimbora, vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
De Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente...


Poderíamos dividir o poema em vários segmentos, associando-os ao percurso do trem:

a) primeiros movimentos: três primeiros versos.
b) partida: com “Virge Maria que foi isso maquinista?” – que representa o apito da maria-fumaça, pelo acúmulo da vogal “i”.
c) aumento do ritmo: nos versos seguintes até o final da primeira estrofe.
d) marcha plena: segunda estrofe.
e) subida, com diminuição do ritmo: 3ª, 4ª e 5ª estrofes.
f) Aumento do ritmo ► marcha normal: a última estrofe.

Na segunda estrofe, o autor representa os ruídos secos, violentos, estrepitosos, provocados pela passagem do trem, através da insistência nas consoantes oclusivas surdas: Foge povo, Passa ponte, Passa pasto, passa boi, passa boiada.

Pelo ritmo ternário, empregado no verso Menina bonita, Manuel Bandeira nos sugere que o viajante deveria estar inquieto [já que o ritmo ternário se presta para indicar desequilíbrio, desarmonia, impaciência e até mesmo surpresa].

Já no verso Prá matá a minha sede, sugere-se a prolongada ausência, aumentando a intensidade do desejo de carinho - reforçada pelo ritmo quaternário.

Com ritmo binário, na quinta estrofe, o poeta reforça a idéia da firme, inabalável decisão, da persistência do viajante Vou mimbora, vou mimbora.

A rima não foi muito aproveitada, mas há alguns exemplos no poema: canaviá – oficiá [soante]; daqui – Ouricuri [soante]; debruçada – boiada [toante].

Empregando o Oô... longo [vogal alta, arredondada, posterior] o autor nos fornece praticamente uma visualização da fumaça do trem que vai ficando pelo ar.

Marcando-se as relações de independência entre os elementos da mensagem, poderíamos dividir o poema em três segmentos:
a) prólogo: 1ª estrofe.
b) Trama: 2ª, 3ª e 4ª estrofes.
c) Epílogo: 5ª e 6ª estrofes.

Todos os recursos empregados no poema são funcionais – porque estão perfeitamente de acordo com o assunto [o som e o movimento de um trem de ferro] e o tema da mensagem [a beleza e a simplicidade dos movimentos ►natureza]. Como mensagem, Manuel Bandeira evoca o saudosismo, lembrando-nos da época da “Maria-Fumaça”, onde a simplicidade e a beleza estavam em movimentos que se confundiam com a natureza.